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Dorrescan.

Setembro de 2023.

Vamos Falar De Ansiedade?

O que nós - em psicanálise - entendemos por ansiedade? Um conceito um pouco subjetivo, mas que entendemos que a ansiedade que existe hoje, em todo indivíduo - e que precisa ser compensada -, o remete as suas relações com o objeto primário; quando o indivíduo teme o desejo, anseia por algo, faz investidas vorazes e depois teme retaliação; o bebê quando deseja ser amamentado, ser gratificado e não obtém gratificação faz investidas, morde, belisca, mas a consequência disso é um temor inconsciente de uma retaliação inconsciente (é, de fato, o temor de ser destruído).

 

O indivíduo tem medos que são transmitidos de maneira filogenética como informações que são passadas no seu próprio DNA e são consolidadas pela manutenção cultural; a criança tem temores subjetivos existenciais que remetem ao seu estado de natureza, esses temores são oriundos de suas próprias investidas fantasiosas, é a isso que denominamos ansiedade; o indivíduo ataca, fazendo investidas vorazes e depois teme uma retaliação que não sabe quando vai acontecer e se vai acontecer; ele teme uma retaliação na mesma intensidade que fez os seus ataques.

 

O que nós percebemos na clínica psicanalítica é que o nível de ansiedade de um indivíduo é proporcional ao nível de investidas vorazes que o mesmo indivíduo faz constantemente contra os objetos ao seu redor; aquelas relações primárias vão sendo levadas para o resto da vida de forma subjetiva nas relações culturais, ou seja, ele converte toda a ansiedade em suas relações sociais, então, para que consiga aliviar as ansiedades, o que faz? desenvolve estratégias neuróticas.

 

Muitas vezes o indivíduo chega na clínica psicanalítica e não percebe-se ansioso, podendo achar-se calmo, achar-se resignado do mundo (ou seja, "o mundo não me afeta"), mas aí está justamente a estratégia neurótica adotada pelo indivíduo para aliviar a ansiedade; existe inúmeras estratégias utilizadas pelos indivíduos para disfarçar e aliviar a ansiedade, é essa ansiedade que apresenta-se, não somente das suas relações primárias como das suas relações com os seus cuidadores.

 

Primeiro falei de uma ansiedade persecutória, depois falei de uma ansiedade básica, oriunda de uma hostilidade básica, ou seja, sempre que a criança é impedida de ser quem ela é espontaneamente ou de ter o que ela deseja ter, ela gera uma hostilidade básica contra os seus cuidadores que não pode ser sentida porque a sociedade não permite, e assim, torna-se uma ansiedade básica, devastadora, e a única forma de conviver com essa ansiedade é desenvolvendo estratégias neuróticas, rendendo-se à religião, rendendo-se à amuletos, à instituições, e com isto o indivíduo vai construindo um falso senso de identidade que o torna cada vez mais ansioso, dependendo de instituições, sejam elas políticas, religiosas, associativas, etc., para definir quem ele é, ou seja, ele depende de uma cultura para dizer quem ele é, e sem isso, o indivíduo fica tão ansioso que não consegue fazer absolutamente mais nada, e quando o faz, percebe que aquilo não era o motivo de sua ansiedade, continuando ansioso e nada resolve, tudo isto porque nós temos que voltar à nossa história.

 

É através da psicanálise que descobrimos como as ansiedades estabelecem-se permitindo que o indivíduo, como paciente, relacione as ansiedades atuais com os eventos passados, e a partir de então seja capaz de ressignificar esses eventos, e como num processo natural, a ansiedade desaparece.

 

Carlos Henrique Dorrescan

Psicanalista.

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